quinta-feira, 29 de outubro de 2009

De luto...

Triste constatar que minha cidade está agonizando, morrendo um pouco mais a cada dia. Não tem como não ficar indignado. Indignado com o rumo da educação, da saúde e das proporções que a violência no Rio de Janeiro vêm tomando.
Queria mostrar minha indignação, o quanto estou perplexa com o que vem acontecendo por aqui. Algumas vezes já estive exposta a situações de risco: já me apontaram uma arma ao levar meu carro, já passei algumas vezes no meio de um tiroteio, já fiquei sem saber o que fazer ao me deparar com a Linha Vermelha interditada por causa de conflitos nas favelas ao redor e também já vi balas traçantes cruzando meu caminho nesta mesma via expressa. Às vezes penso até que é sorte eu ainda estar viva, por nenhuma bala ter deixado de ser perdida ao me encontrar.
Enquanto alunos perdem aula por não poderem sair de suas casas, mães perdem seus filhos, crianças perdem a esperança de terem um fututro melhor por conta de tanta violência, a sociedade comemora porque o Rio de Janeiro sediará os Jogos Olímpicos em 2016.
Que venham novos estádios olímpicos, velódromos, vilas olímpicas, museu do som, mudança da sede do Comitê Olímpico, superfaturamento das obras!!! Sediaremos as Olimpíadas!!! O mundo olhará para nós!!!
Me pergunto: e quem olhará por nós?
Até quando teremos que ter como companheiro constante o pânico. O pavor de sairmos à rua sem sabermos se voltaremos para casa ou se, caso cheguemos, teremos o prazer do abraço dos filhos, amigos e familiares?...

sábado, 24 de outubro de 2009

É duro ser professor...


Ontem vi a chamada de um programa de televisão que dizia que cada ano a mais de escolaridade que você tem te garante 15% de aumento no salário. Só se você não for professor... Caso seja, vou te contar o que você certamente terá a mais. E não será um gordo aumento no salário!!!

Primeiro, uma turma problemática, pelo menos uma. Se não, você não pode dizer que é professor! E tudo, mas tudo mesmo, pode acontecer a ou com você.

O mais leve pode ser uma aluna dirigindo-se a você com: Ah, minha filha! Peraí!!! Minha filha não... professora! Como se essa palavra ainda quisesse impor algum respeito ou autoridade.

Sabe, não sou uma professora assim tão intransigente. Lembro que já fui aluna um dia. Ainda me recordo do que alunos fazem e algumas vezes tolero até bastante coisa. Ah! Mas há coisas que parecem inacreditáveis. Coisas que jamais pensei que fosse ver um dia. E, mesmo pensando como aluna, nunca pensaria em fazer algo do tipo. Assusta pensar que o futuro do mundo está nas mãos de pessoas como certos estudantes. Eis uma história. Uma história verídica, por mais absurda que possa parecer:

Tenho uma turma com uns quarenta alunos inscritos, mas somente uns quinze frequentam as aulas. Desses, somente três me entregaram os trabalhos que passei no bimestre passado. Dois estavam idênticos (me pergunto o porquê de eles nem trocarem a ordem das palavras ou usar sinônimos) e um deles era uma xerox. Isso mesmo. O infeliz aluno tirou uma xerox do trabalho do colega, cortou o excesso de folha com as mãos e me entregou. Não se deu nem o trabalho de escrever o nome. Não achei que viveria para ver isso. Estudei tanto. Virei noites estudando. E sabe que ele reclamou por ter tirado zero. Disse que não tirou xerox. Teimou comigo, que estava com o trabalho dele nas mãos.

Queria dizer também que nem tudo é tão ruim assim... Esta semana, estava dando uma aula sobre a segunda fase modernista e falava para a turma sobre Graciliano Ramos. Comentei algumas coisas sobre o autor e sobre "Vidas secas", sua obra-prima. Um livro maravilhoso.
Terminada a aula, fui guardar minhas coisas para ir embora e vi uma aluna na biblioteca procurando pelo livro que lhe tinha acabado de ser apresentado. Fiquei feliz. E, naquele dia, tive a certeza de que meu trabalho valia a pena... Apesar de tudo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"Sei lá, sei lá..."


Problemas, muitos problemas...

Tudo mesmo que eu queria neste exato momento era ser um personagem das novelas de Manoel Carlos. Queria começar um capítulo de minha vida ao som de Chico Buarque, afirmando que a vida tem sempre razão, na verdade, queria mesmo que a vida sempre tivesse razão! O que importa mesmo é que todos os personagens do Maneco são lindos, ricos, felizes... E mesmo com sofrimento, ah! a gente sofreria no Leblon ou em qualquer outro lugar charmosérrimo do planeta! Choraríamos ao som de boa música, seja jazz ou bossa nova. Afogaríamos as mágoas olhando pro mar, vendo o por do sol no Arpoador. Você tem que concordar comigo: não há tristeza que resista ou dor que teime em doer por muito tempo... Sem contar que teríamos a certeza do final feliz, sim, porque eu não sou tão ruim assim pra merecer um castigo. E como é uma novela do Maneco, somente um dos meus lados prevaleceria, nada de lado mau, porque seus personagens ou são bons ou maus, além dos que se regeneram, claro!
Queria a certeza de que a vida é uma grande ilusão e que sempre há um final feliz...

Até a próxima!

PS: Aí vai a letra da música supracitada, de autoria de Toquinho e Vinicius de Moraes.

Sei lá... a vida tem sempre razão

Tem dias que eu fico pensando na vida
E sinceramente não vejo saída.
Como é, por exemplo, que dá pra entender:
A gente mal nasce, começa a morrer.

Depois da chegada vem sempre a partida,
Porque não há nada sem separação.
Sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão.
Sei lá, sei lá, só sei que ela está com a razão.

A gente nem sabe que males se apronta.
Fazendo de conta, fingindo esquecer
Que nada renasce antes que se acabe,
E o sol que desponta tem que anoitecer.

De nada adianta ficar-se de fora.
A hora do sim é o descuido do não.
Sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão.
Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

À Kelly

Ouvi este poema ontem, em um programa sobre João Cabral de Melo Neto, um dos nossos maiores poetas. O escritor Décio Pignatari definiu assim o poeta João Cabral: "Ele tem um lado popular que se chama João Cabral e tem um lado aristocrático que se chama Melo Neto. Então, ele é, um pouco, todo este universo conflituado e passou quarenta anos tentando resolver este conflito."
De qualquer forma, após ouvir o poema, revi minha amiga bailadora em ação e senti saudades... O poema é uma homenagem a ti, querida Kelly...


UMA BAILADORA SEVILHANA

Como e por que sou bailadora?
Quando era entre menina e moça

tinha comprida cabeleira
que me vinha até as cadeiras.

Me diziam: com essas tranças
não pode não votar-se à dança.

Então, me ensinam a dançar.
Sou? O que não pude decorar.

Vendo famosa bailadora:
ei-la apagada, quase mocha.

Não te agrada F... de Tal,
que todo dia sai no jornal?

Não gosto: dança repetido;
dança sem se expor, sem perigo;

dançar flamenco é cada vez;
é fazer; é um faz, nunca um fez.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"Gorda"

Há umas duas semanas, fui ao teatro assistir à peça "Gorda". Ouvi tanto falar da peça... Eu e minhas expectativas, que dessa vez foram frustradas!

A peça é chaaaaaata... Culpa de algumas cenas protagonizadas por uma magra neurótica e desbocada!!! Cenas longas, sem grande conteúdo e cheias de esteriótipos... Como se fossemos simplesmente: gorda feliz e bem resolvida ou magra neurótica e insegura!

Valeu apenas pela abordagem do preconceito, preconceitos que podemos estender por vários caminhos... Infelizmente, essa palavra tão feia ainda é bastante usada por nós...

A peça gira em torno de um romance: uma magro que se apaixona por uma gorda. Aí já começam os esteriótipos... A gorda é divertida, bem resolvida, feliz com seus muitos quilos a mais (embora a atriz vá reduzir o estômago para tentar ser magra!), embora viva fazendo piadas sobre si mesma. Mas isso é perdoável: mecanismo de defesa. Normalíssimo em quem vive sendo vítima de comentários negativos!

Bom, o magro? Normal: um homem bonito e bem-sucedido.

Aí começa o problema: o diferente! Por que será que o diferente sempre nos assusta, nos ameaça? Em qualquer sentido! Tudo e todos que não se enquadram em nosso sistema não preestabelecido nos amedronta. Aí, lançamos mão do horrível pré-conceito.

Ainda havia mais dois personagens: a ex-namorada do magro. Uma mulher macérrima, sempre em busca de novas atividades para manter a forma. Fútil, chata, superficial, neurótica, insegura e com a boca mais suja que já vi em minha vida! E um amigo do magro. Típico homem machista e babaca. Grosso até não poder mais! Mais dois esteriótipos...

Os dois protagonistas, gorda e magro, não conseguem ficar juntos. Ele não aguenta a pressão dos colegas de trabalho, que riem e debocham de sua nova namorada.

Assustador mesmo é constatar que as pessoas adoram palavrões e comentários machistas e preconceituosos.

Mais assustador ainda é constatar a triste realidade: a de que na maioria das vezes nos acovardamos e não defendemos nossas convicções. Agimos como o magro da peça, que se retira, cansado e covarde, de sua tentativa de vencer preconceitos. E assim, mesmo que sem querer, contribuímos para piorar ainda mais um pouquinho com o mundo feio ao nosso redor. O mundo feio que faz do diferente algo que não seja digno de amor nem de respeito...