quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Quando vale a pena...

Na maior parte do tempo não vale mesmo a pena, mas quando acontece algo que de fato valha a pena, não há como comparar o que um professor sente.
Talvez possa pensar que um médico que acabou de salvar a vida de alguém sinta tamanha alegria. Talvez não. O médico salva a vida do paciente e acaba ali. Fica a gratidão, claro, mas o vínculo encerra-se.
Hoje a alegria que desfrutei não pode ser sentida por nenhum profissional... Por nenhum mesmo!

Hoje foi o último dia de aula de uma de minhas turmas de terceiro ano. Logo no início, um de meus alunos veio falar comigo:
- Professora, sabe aquilo que a senhora me falou na outra aula, de eu continuar estudando?
- Sei.
- Resolvi que vou fazer faculdade. Já estou escolhendo o curso.
Meus olhos enxeram-se d'água. Juro. Dei-lhe um abraço e disse que estava muito feliz e orgulhosa dele. Pedi também para que me convidasse para sua formatura!

Não senti o que se sente quando se salva uma vida, mas como alguém que acabara de plantar a semente da esperança em um coração. Tenho certeza que os anos passarão e ele se lembrará da chata professora que só fez um comentário no fim de mais uma aula.

PS: Por isso o post está verde hoje, porque quero distribuir esperança!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Saudade


A um ausente (Carlos Drummond de Andrade)

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral,
a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo, sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida." (Clarice Lispector)
PS: Ainda não parou de doer, será que um dia vai passar?...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Esperanças

Certo dia, quando eu era criança, uma esperança pousou na parede da sala da minha casa. Eu, típica menina, gritei, apavorada com o monstruoso inseto. Meu irmão, típico menino, quis pegar o inseto para jogar em mim. Minha mãe, sábia mulher, mandou deixar a esperança em paz! Era bom termos esperança em nosso lar... Não só o inseto, que deve ter ganho este nome somente por causa de sua cor.
Não, não irei falar de inseto, mas de esperança. Afinal de contas, pousou uma na minha casa novamente.

A esperança é um homem grande, forte, com uma aparência até meio rude. Chega a lembrar o Shrek, aquele mesmo do desenho animado, que, por coincidência (será?!), é verdinho como o inseto! Bom, Esperança não é verde, é marrom, como diria meu sobrinho com toda a inocência de quem ainda não sabe nada de raças e preconceitos.

Não gosto de insetos e os que me conhecem sabem que também não sou muito fã de seres humanos, mas Esperança não é um ser humano qualquer. O coração deste homem é um sem fim de amor... Quanto caráter, quanta sabedoria em tanta ignorância...

Uma esperança como esta deveria aparecer na casa de todos, pelo menos uma vez na vida.

Hoje afirmei a ele que minha esperança havia sido perdida há algum tempo. Ah! Ainda não tinha percebido que Esperança me trouxe a esperança de volta quando pousou na parede de minha casa.