sexta-feira, 18 de junho de 2010

Carta de despedida


As pessoas que me conhecem sabem o que sinto em relação à obra de Saramago. Brinco às vezes que tenho dois vícios literários: Clarice Lispector e José Saramago. Faço revezamento de leitura desses dois autores. Ela nos deixou no ano em que nasci, hoje fiquei órfã de Saramago.
A notícia de sua morte foi a primeira que recebi e passei o dia pensando num bom jeito de escrever algo sobre isso. Uma pena não ter nascido com seu dom de escrever...
De qualquer forma, ele me deixou um pouco dele em suas obras, que sempre me fazem ver as coisas de uma outra forma, sabe, seus livros têm linhas e entrelinhas...
O primeiro livro que li foi "O conto da ilha desconhecida". Foi paixão à primeira leitura. E sempre que posso, compartilho com meus amigos esse livro-conto. É bom dividir uma busca tão intensa e incessante.
Depois passei para "As pequenas memórias", livro do qual Saramago divide conosco memórias de uma parte de sua vida. A primeira dificuldade que senti foi a da língua (o português de Portugal), depois o seu estilo de escrever; mas como não se deixar seduzir e viajar com tanta poesia. Como alguém pode escrever uma prosa tão subjetiva, tão poética?
Aí já era um vício! Só uma pessoa brilhante para escrever histórias fantásticas como "O homem duplicado" e "A jangada de pedra" (o meu companheiro do momento)!
E o que dizer de "O evangelho segundo jesus cristo" e "Caim"? Aqui posso dizer que enfim achei alguém que compreendia o que penso, além de tudo!
E o inigualável "Ensaio sobre a cegueira". Um retrato assustador e alarmante da cegueira que nos assola.
Um mestre, e, para mim, o maior escritor de língua portuguesa... Continuarei bebendo do seu talento: do seu jeito de escrever que é só seu; da sua forma de conversar conosco, leitores; da sua poesia; da sua ironia; da sua descrença... de você...
Adeus, Saramago.

2 comentários:

Nilton Braga disse...

É por esse sentimento que eu gosto tanto de ler, não é informação, não é nem lazer, é INSPIRAÇÃO, pois as boas histórias, escritas ou não, são aquelas que continuam em nossa mente depois que terminam.

É o caso do Saramago para você. Um eco constante e infinito.

Sra. Confitê disse...

Adoro ser sua amiga e poder compartilhar do seu entusiasmo e conhecimento.