terça-feira, 10 de março de 2009

"Os obedientes", Clarisse Lispector

Sempre amei ler. Lembro que na época de colégio estava sempre na biblioteca nos tempos vagos. Lia, algumas vezes, mais de um livro por semana! Chegava da escola e começava a devorá-los! Sempre foram deliciosos os livros.

Não sei o porquê, mas há algum tempo andava meio negligente com a leitura. Nunca deixei de comprar livros, isso é um prazer do qual não abro mão. Mas, no fim, eles ficavam na estante a minha espera. Há poucos meses redescobri o vício da leitura. Mal acabo um e já começo outro. Acho que desde novembro já estou no quarto livro, fora as leituras obrigatórias!

No momento estou lendo um livro de contos da Clarice Lispector, "Felicidade Clandestina". Ontem à noite, sua leitura me proporcionou um momento único, lúdico...

Na verdade, foi uma forma diferente de tentarmos entender o que vem acontecendo, desde muito antes das obras; e, justiça seja feita: elas não estão causando todos os males da humanidade!!!

Estava deitada lendo, como tenho feito todas as noites. Algum tempo depois achei que a maldita TV seria ligada, mas isso não aconteceu. Ele apenas se deitou ao meu lado e disse que ia ficar comigo. Deitei-o no meu colo e li para nós dois um dos contos do livro, "Os obedientes". Na verdade foi uma leitura providencial.

Nele, Clarice conta sobre um casal, um casal obediente, que acaba conformado com a obediência. Um casal que faz tudo "certo" (tendo como parâmetro o que se considera certo para uma vida a dois), tudo sempre igual, sem sonhos; e assim eles vivem, resignados (???), as suas rotinas. Resignados até certo ponto. O mais triste foi perceber que quando queriam (e precisavam) desobedecer, já era tarde demais.

Segue um trecho do conto, que vale a pena ser lido e pensado...

" [...] Esse homem e essa mulher começaram — sem nenhum objetivo de ir longe demais, e não se sabe levados por que necessidade que pessoas têm — começaram a tentar viver mais intensamente. À procura do destino que nos precede? e ao qual o instinto quer nos levar? instinto?!
A tentativa de viver mais intensamente levou-os, por sua vez, numa espécie de constante verificação de receita e despesa, a tentar pesar o que era e o que não era importante. Isso eles o faziam a modo deles: com falta de jeito e de experiência, com modéstia. Eles tateavam. Num vício por ambos descoberto tarde demais na vida, cada qual pelo seu lado tentava continuamente distinguir o que era do que não era essencial, isto é, eles nunca usariam a palavra essencial, que não pertencia a seu ambiente. Mas de nada adiantava o vago esforço quase constrangido que faziam: a trama lhes escapava diariamente. Só, por exemplo, olhando para o dia passado é que tinham a impressão de ter — de algum modo e por assim dizer à revelia deles, e por isso sem mérito — a impressão de ter vivido. Mas então era de noite, eles calçavam os chinelos e era de noite. [...]"

Assim o fizemos: lemos juntos, pensamos juntos, conversamos juntos, adormecemos juntos...

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