Sempre amei ler. Lembro que na época de colégio estava sempre na biblioteca nos tempos vagos. Lia, algumas vezes, mais de um livro por semana! Chegava da escola e começava a devorá-los! Sempre foram deliciosos os livros.
Não sei o porquê, mas há algum tempo andava meio negligente com a leitura. Nunca deixei de comprar livros, isso é um prazer do qual não abro mão. Mas, no fim, eles ficavam na estante a minha espera. Há poucos meses redescobri o vício da leitura. Mal acabo um e já começo outro. Acho que desde novembro já estou no quarto livro, fora as leituras obrigatórias!
No momento estou lendo um livro de contos da Clarice Lispector, "Felicidade Clandestina". Ontem à noite, sua leitura me proporcionou um momento único, lúdico...
Na verdade, foi uma forma diferente de tentarmos entender o que vem acontecendo, desde muito antes das obras; e, justiça seja feita: elas não estão causando todos os males da humanidade!!!
Estava deitada lendo, como tenho feito todas as noites. Algum tempo depois achei que a maldita TV seria ligada, mas isso não aconteceu. Ele apenas se deitou ao meu lado e disse que ia ficar comigo. Deitei-o no meu colo e li para nós dois um dos contos do livro, "Os obedientes". Na verdade foi uma leitura providencial.
Nele, Clarice conta sobre um casal, um casal obediente, que acaba conformado com a obediência. Um casal que faz tudo "certo" (tendo como parâmetro o que se considera certo para uma vida a dois), tudo sempre igual, sem sonhos; e assim eles vivem, resignados (???), as suas rotinas. Resignados até certo ponto. O mais triste foi perceber que quando queriam (e precisavam) desobedecer, já era tarde demais.
Segue um trecho do conto, que vale a pena ser lido e pensado...
" [...] Esse homem e essa mulher começaram — sem nenhum objetivo de ir longe demais, e não se sabe levados por que necessidade que pessoas têm — começaram a tentar viver mais intensamente. À procura do destino que nos precede? e ao qual o instinto quer nos levar? instinto?!
A tentativa de viver mais intensamente levou-os, por sua vez, numa espécie de constante verificação de receita e despesa, a tentar pesar o que era e o que não era importante. Isso eles o faziam a modo deles: com falta de jeito e de experiência, com modéstia. Eles tateavam. Num vício por ambos descoberto tarde demais na vida, cada qual pelo seu lado tentava continuamente distinguir o que era do que não era essencial, isto é, eles nunca usariam a palavra essencial, que não pertencia a seu ambiente. Mas de nada adiantava o vago esforço quase constrangido que faziam: a trama lhes escapava diariamente. Só, por exemplo, olhando para o dia passado é que tinham a impressão de ter — de algum modo e por assim dizer à revelia deles, e por isso sem mérito — a impressão de ter vivido. Mas então era de noite, eles calçavam os chinelos e era de noite. [...]"
Assim o fizemos: lemos juntos, pensamos juntos, conversamos juntos, adormecemos juntos...
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